De Rebeca Noguchi, direção de Bernardo Dugin
O espetáculo Alta Tensão traz à cena a trajetória íntima e emocional de Laura, uma mulher de 69 anos, recém-viúva, em busca de um novo sentido para a existência após a morte do marido, que por anos foi o centro gravitacional de sua vida. Em meio a sessões de terapia, rituais de beleza e novas relações afetivas, ela percorre as camadas do luto, da memória e do autoconhecimento, em um arco dramático que transita entre o trágico e o cômico, entre o ordinário e o sublime.
A proposta cenográfica, desenvolvida em diálogo com o diretor Bernardo Dugin, parte da compreensão de que Laura é, antes de tudo, uma diva — não nos moldes espetaculares do estrelato contemporâneo, mas como uma figura teatral que carrega a grandeza das experiências vividas e o brilho de uma memória afetiva gloriosa. Uma diva clássica, porém reinventada.
O espaço cênico foi concebido como uma sala-palco simbólica, onde se cruzam dois planos narrativos: o da vida íntima e o da performance subjetiva dessa mulher que se reinventa. A cenografia é composta por um conjunto reduzido, mas expressivo de elementos simbólicos: um cortinado clássico, uma poltrona de presença, um lustre suspenso, um piano ausente-presente e um tapete de honra, todos brancos multicolorível, capaz de receber diferentes tratamentos de luz e projetar atmosferas internas que oscilam entre a nostalgia e o renascimento.
O teto flutuante, como um eco da psique da personagem, sugere um abrigo psicológico instável, um espaço entre o real e o onírico. Cada elemento coexiste numa dupla função espacial: como cenário doméstico e como palco de consagração pessoal, sugerindo que a própria sala onde ela habita se transforma num teatro de sua memória e reinvenção.
A cenografia, portanto, não apenas ambienta, mas colabora ativamente na narrativa, permitindo que a personagem habite seus afetos com liberdade e teatralidade. A estética proposta é clássica em sua linguagem, mas pontuada por uma contenção que destaca o gesto, o tempo e o silêncio como matérias fundamentais do espaço.







Equipe Técnica
Costureira de cenografia: Eliane Alencar